Regional de Montes Claros mobiliza municípios para ações de prevenção de acidentes com escorpiões

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Concentrando anualmente mais de 87% dos acidentes por animais peçonhentos envolvendo escorpiões, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros está reforçando com os gestores dos 54 municípios que compõem a sua área de atuação a necessidade da intensificação das ações de prevenção contra esses animais. Entre janeiro de 2022 e agosto deste ano foram notificados na região mais de 8,9 mil acidentes com escorpiões, com ocorrência de três óbitos em 2023.

“Diante de números tão significativos é de fundamental importância que os gestores de saúde e a população em geral redobre os cuidados, especialmente em relação às crianças, que constituem o grupo mais suscetível ao envenenamento sistêmico grave”, alerta a coordenadora de vigilância em saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes.

Em ofício enviado aos municípios em 16 de agosto, a Superintendência Regional de Saúde alerta que, em razão da alta incidência de acidentes com animais peçonhentos, em especial escorpiões e visando prevenir óbitos, as secretarias de saúde devem fazer a análise epidemiológica dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) para compreender as particularidades do agravo e identificar quais ações precisam ser priorizadas em cada localidade.

Escorpião amarelo é o principal causador de acidentes no Norte de Minas

A SRS Montes Claros orienta que os municípios também devem realizar ações de promoção à saúde e prevenção dos acidentes, com o repasse de orientações à população; divulgação ampla do fluxo para atendimento das pessoas nas unidades de saúde em casos de acidentes por animais peçonhentos; disponibilização dos protocolos vigentes; qualificação e capacitação dos profissionais de saúde para o manejo de pacientes.

Em 2022, dos 6 mil 688 acidentes com animais peçonhentos notificados pelos municípios, 5 mil 821 envolveram escorpiões. As localidades com maior número de acidentes registrados foram: Montes Claros (2.226); Bocaiúva (343); Salinas (321); Porteirinha (313); Janaúba (200); Jaíba (193); Coração de Jesus (160); Espinosa (151); Taiobeiras (130); Mirabela (128) e Francisco Sá (102).

Já entre janeiro e 7 de agosto deste ano, na área de atuação da SRS Montes Claros foram notificados 3 mil 823 acidentes com animais peçonhentos, dos quais 3 mil 151 envolveram escorpiões. Foram registrados três óbitos, sendo um em Montes Claros, um em Salinas e outro em São Francisco. Até o momento, os municípios com maior quantidade de acidentes notificados são: Montes Claros (1.298); Salinas (168); Porteirinha (167); Bocaiúva (165) e Janaúba (148 casos).

Tratamento

Agna Menezes explica que, em caso de acidentes com escorpiões, ocorre a instalação imediata de dor, podendo expandir para o membro afetado, acompanhada de parestesia (sensação de formigamento ou dormência); eritema (manchas vermelhas na pele) e sudorese local. O quadro mais intenso de dor ocorre nas primeiras horas após o acidente.

Já as manifestações sistêmicas ocorrem após poucos minutos ou até entre duas a três horas após o acidente. Principalmente em crianças podem surgir sintomas como sudorese excessiva; agitação psicomotora; tremores; náuseas; vômitos; sialorreia (perda não intencional de saliva pela boca); hipertensão ou hipotensão arterial (a pressão arterial cai a ponto de provocar sintomas como tonturas e desmaios); arritmia cardíaca; insuficiência cardíaca congestiva; edema pulmonar agudo e choque. A presença dessas manifestações indica a suspeita do diagnóstico de escorpionismo, mesmo na ausência de história de picada ou identificação do animal.

O diagnóstico de envenenamento dos acidentes com escorpiões é eminentemente clínico-epidemiológico. O tratamento é feito, de preferência, com soro antiescorpiônico ou, na falta deste, com soro antiaracnídico.

Polos

Há mais de sete anos a Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros criou 18 polos de soroterapia para o atendimento de pessoas vítimas de animais peçonhentos.

“Crianças têm uma tendência a um pior quadro clínico diante do envenenamento por picada de animal peçonhento devido ao baixo peso corporal. Pessoas com problemas cardíacos também correm mais risco de complicações de saúde, por isso a criação dos polos de soroterapia visa agilizar o atendimento de vítimas de acidentes em municípios com localização estratégica nas microrregiões de saúde. Isso possibilita o início dos tratamentos no menor espaço de tempo, reduzindo com isso as possibilidades de óbitos”, observa a referência técnica das coordenadorias de vigilância epidemiológica e de saúde da SRS Montes Claros, Amanda de Andrade Costa.

Ela explica que a localização dos polos levou em consideração informações epidemiológicas e geográficas. Em Montes Claros, o Hospital Universitário Clemente de Faria é o centro de referência para o atendimento de vítimas de acidentes com animais peçonhentos. Outras 17 unidades hospitalares de referência estão sediadas em Bocaiúva; Coração de Jesus; Espinosa; Grão Mogol; Francisco Sá; Jaíba; Janaúba; Mato Verde; Mirabela; Monte Azul; Montezuma; Ninheira; Porteirinha; Rio Pardo de Minas; São João do Paraíso; Salinas e Taiobeiras.

Prevenção

A referência técnica Amanda Costa reforça que “a prevenção contra acidentes com animais peçonhentos deve ser redobrada, sobretudo no caso dos escorpiões. No Norte de Minas, os acidentes envolvem especialmente a espécie Tityus serrulatus, mais conhecido como escorpião amarelo”.

Entre as medidas de prevenção estão: uso de calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem; examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho antes de usá-las; afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários; não acumular entulhos e materiais de construção; limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede; vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés.

Também é recomendada a utilização de telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros; evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada; limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas.

Por Pedro Ricardo / Foto: Thiago Mamed – Funed